27.5.10

Escrito na parede

As frases que os anarquistas escrevem nas paredes. Aquelas que fazem parar. Que fazem pensar. Sorrir, às vezes. As frases que os anarquistas escrevem nas paredes. Como sinais de fumo no meio da confusão. Como rasto de inteligência perdida entre a barbárie dos graffitis e das infantis declarações de amor. As frases que os anarquistas escrevem nas paredes. Aquelas que tiram o ar. Que alimentam a revolta. Ou o sarcasmo, ao menos. Ou a ironia, se mais possível não for. As frases que os anarquistas escrevem nas paredes. Na sua invisibilidade luminosa. No seu silêncio gritante. No seu excesso moderado. As frases que os anarquistas escrevem nas paredes. Que ficam na memória. Que já não sabemos esquecer. Que lembramos, ao menos, de vez em quando. As frases que os anarquistas escrevem nas paredes. O voto é uma arma, se a usas ficas desarmado. Os nossos sonhos não cabem no tamanho das urnas. Nem submissas nem emancipadas, violentas e descontroladas. A maior arma do opressor é a cabeça do oprimido. As frases que os anarquistas escrevem nas paredes. No meio do Amo-te Cátia ou do Fuch the police, escrito assim, tal como está aqui, suponho que por mau domínio do inglês, mas podia ser também pudor, boa educação vinda de quem menos se espera, fuch em vez de fuck. As frases que os anarquistas escrevem nas paredes. No meio dos símbolos de uma revolta inconsequente, se revolta é e não apenas primitivo instinto de adolescências perdidas. As frases que os anarquistas escrevem nas paredes. Como quem resiste. Ainda. Apesar de tudo. Como quem insiste. E existe.

2 comentários:

Pezinhos de Lã disse...

AS frases dos anarquistas são lutas que se esqueceram... Jazem nas paredes, para que de vez em quando possam ser recordadas...

Johnny disse...

Concordo que muitas vezes são tão inócuas quanto a raiva dos que as escrevem. Cópias de cromos de outras cadernetas.