20.5.10

O fim da imaginação

Se pensarmos bem, no fundo, a blogosfera morreu. Talvez já tenha existido, um dia, no princípio de tudo, quando um blog servia para tentarmos ser maiores do que nós próprios. Agora os blogs ganharam a nossa dimensão. Tornaram-se tão pequenos e insignificantes como nós próprios o somos. Passaram de lugares onde criávamos a lugares onde já nem sequer testemunhamos. Limitamo-nos a apontar umas coisinhas, a dizer uns disparates, a contar umas historietas. Navegar na blogosfera tornou-se quase maçador. O blog individualizou-se. Deixámos de ter autores (actores), e passámos a ter as pessoas tais como elas são na realidade. E que nos contam não as histórias que inventam, ou que reinventam - provavelmente a forma mais radical de inventar - mas as coisas que aconteceram tal como aconteceram. Isto é provavelmente natural. A blogosfera deixou de ser o lugar de imaginário refugio para aqueles/aquelas que queriam criar, e passou a ser o lugar de quem só quer dizer estou aqui, olhem para mim. Deixou de ser o lugar onde o autor se apaga e passou a ser o lugar onde cada frase, cada ideia, cada movimento, nos faz ver a pessoa que lá está. O falso autor diz eu porque não consegue, não sabe, não quer dizer mais nada.

4 comentários:

Rita disse...

Gosto que tenhas regressado assim: observador, mordaz, acutilante. Por momentos temi que também tu tivesses perdido a capacidade de te reinventares. Seria terrível... também para mim.

Agora já não vou discutir, acho. ;)

Para (re)criarmos precisamos de estar embuídos de um estado de espírito especial. O desespero também ajuda. Estarão as pessoas pouco desesperadas ou só cansadas?
O que aconteceu ao "click" criador? Francamente não sei. Mas que a blogosfera está aborrecida, lá isso tens razão.

Pedro Lobo disse...

Permite-me que discorde. O "retirar da máscara" é a parte que tem mais graça, encontra-se de tudo; o processo criativo, a coragem de criar, vem precisamente daí, da capacidade de nos abratraírmos e fazer precisamente o que nos apetece e como queremos.

Concordo que se encontram muitas coisas desinteressantes, mas também se encontram coisas muito boas.

Para mim, os blogs, como os vemos hoje, são células de um universo criativo, onde se pode partilhar conhecimento, experiências e desenvolver, a partir dai, ideias novas.

"Para criarmos temos que estar embuídos de um espírito especial"!!??

"TODO O CONHECIMENTO É REDUTOR" - António Ramos Rosa, O Aprendiz Secreto - é um livro onde o autor descreve o processo criativo.

Há uns anos a bloggsfera era restrita a uma mão cheia de blogues de eruditos e notáveis. Isso é que era aborrecido.

Vou terminar para não ficar aqui até amanhã.

Parabéns pelo blogue.

jctp disse...

No fundo, este texto é mais autobiográfico do que outra coisa qualquer. Parecendo escrever sobre a blogosfera estou provavelmente apenas a escrever sobre mim próprio e a relação que quero ter (ou não quero ter) com a blogosfera.

Olá, Rita. Vamos ver o que isto dá...

Pedro, não discordo substancialmente de nada do que dizes.

Ginger disse...

Em parte sim, em parte não... depende dos casos, coiso e tal. Mas lá que a maioria dos blogs se tornaram maçadores, lá isso tornaram.


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